quarta-feira, 8 de junho de 2011

Resquícios Inconsoláveis da Alma

Ele veio aqui ontem.
Sim, ele teve coragem.
Eu estava aqui, sentado sem fazer nada, quando alguém bateu na porta. Estranhei, não esperava por ninguém, mas mesmo assim levantei, abri bem devagar e ele estava ali, parado na soleira da porta. Tentei não demonstrar minha surpresa, mas acho que não funcionou muito bem. Enfim, isso não interessa... Interessa que quando me dei conta, ele estava sentado aí, bem aí, com aquela conversa mansa e a sua voz calma.
Não sei muito bem porque, mas tudo aquilo me deu uma raiva, uma raiva inexplicável, que nunca tinha sentido antes. Parecia que nada tinha passado, que ainda era como quando morávamos na nossa antiga cidade. Aquilo também começou a me sufocar, a me bater um desespero e eu não conseguia mais aguentar. Ele notou, é claro.
Tentou conversar comigo, saber o que estava acontecendo e de repente... Eu comecei a gritar. Tudo aquilo que eu estava escondendo, tudo aquilo que eu tinha feito questão de nunca mais pensar, tudo o que eu queria apagar, foi saindo. E enquanto gritava, comecei a falar coisas terríveis, coisas que não queria ter falado, coisas que eu sabia, é claro que eu sabia, que iam machucar profundamente ele. Só de lembrar fico horrorizado com tudo que disse. Sei que ele devia ouvir, mas às vezes não é bom falarmos tudo que pensamos, pois a nossa mente pode ser maldosa.
Enfim... Depois desse meu surto, eu parei e chorei. Chorei como nunca tinha chorado antes também. Não sei como ele foi embora, não sei quanto tempo fiquei ali, não sei mesmo. Só fiquei ali, durante muito tempo.
Quando eu finalmente tive coragem e forçar pra levantar, fui pro banho. Eu precisava daquilo, precisava tirar o que tinha ficado dele de mim, eu precisava finalmente superar e esquecer tudo. Eu ainda preciso, aliás. Só que agora tá mais fraco. Eu sinto que todo o peso que eu ainda carregava daquilo passou e ficou só a lição.
É, eu precisava disso.
Ainda bem que ele veio.

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